sexta-feira, 11 de março de 2016

A língua padrão

     


    Uma sociedade complexa como a nossa – composta de milhões de pessoas distribuídas por um vasto território e envolvidas numa miríade de atividades diferentes – precisa estimular uma certa padronização linguística para que a interlocução ampla e suprarregional possa realizar-se sem maiores embaraços.

    Essa sociedade vive atravessada, portanto, por duas forças: a diversidade que lhe é própria tende a multiplicar-se indefinidamente a variação linguística. Por outro lado, para manter laços integradores, a sociedade precisa desenvolver meios de relativa padronização, isto é, sem perder a dinâmica diversificadora, precisa cultivar e difundir uma certa variedade – relativamente isenta de marcas muito restritas do ponto de vista social e regional – para ser usada nos meios de comunicação social, no funcionamento do Estado, no ensino.

     A padronização não pode jamais ser entendida como visando aniquilar a diversidade. A variedade padrão tem de ser vista como uma em meio às outras variedades, tendo finalidades e usos bastante específicos.

  Além de servir à comunicação oral de amplo alcance, a variedade padrão está intrinsecamente ligada à escrita porque esta tem a grande vantagem de poder transcender não só os limites locais, como as próprias fronteiras nacionais (um material escrito pode ser lido em qualquer parte do mundo onde haja pessoas que entendam o português como língua nativa ou como língua estrangeira) e mesmo os limites de seu tempo (ainda hoje podemos ler sem dificuldade textos escritos em séculos passados).

    A variedade padrão, principalmente quando ligada à escrita, terá relativa estabilidade: ela tenderá a mudar menos no tempo do que as variedades da fala. Isso se dá porque a escrita é uma atividade que favorece uma maior atenção às formas da língua pelo fato de a realizarmos de modo mais reflexivo, isto é, ao escrever, temos tempo para monitorar detalhadamente nossos passos e, por isso, podemos, ao reescrever ou revisar nossos escritos, fazer ajustes conscientes, bem menos comuns na fala.

   Para favorecer a padronização, as sociedades se utilizam de vários instrumentos, como leis de fixação da ortografia, dicionários e livros de gramática, além do sistema de ensino e dos testes de escolaridade.


O ideal de uma variedade padrão, portanto, é, em princípio, positivo pela sua utilidade social e cultural. Esse ideal, contudo, não pode transformar-se num instrumento de autoritarismo e discriminação social.
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Dica do Prof. Fabiano Mesquita (Língua Portuguesa)

Extraído e adaptado de:
FARACO, Carlos Alberto. Português: língua e cultura. (Ensino Médio, 1ª série). Curitiba: Base Editora, 2005, p. 164.


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