sexta-feira, 22 de abril de 2016

Intertextualidade



A intertextualidade ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade ou da memória discursiva dos interlocutores. (Kock, 2007)

A Cigarra e a Formiga é uma das fábulas atribuídas a Esopo e recontada por La Fontaine. Conta a história de uma cigarra que canta durante o verão, enquanto a formiga trabalha acumulando provisões em seu formigueiro. No inverno, desamparada, a cigarra vai pedir abrigo à formiga. Esta pergunta o que a outra fez durante todo o verão. "Eu cantei", responde a cigarra. "Então agora, dance", rebate a formiga, deixando-a do lado de fora.  Do cinema à tirinha, muitas versões e adaptações foram feitas dessa fábula. Confira o diálogo entre os textos.  

Sem barra

Enquanto a formiga 
Carrega comida 
para o formigueiro, 
A cigarra canta, 
Canta o dia inteiro. 

A formiga é só trabalho. 
A cigarra é só cantiga. 

Mas sem a cantiga 
Da cigarra 
Que distrai da fadiga, 
Seria uma barra 
O trabalho da formiga. 

PAES, José Paulo. Poemas para brincar. 
São Paulo: Ática.


Parodiando
Disponível em: www.euhein.com.br

















Como na Contrafábula da cigarra e da formiga, muitos artistas contemporâneos fazem paródia, isto é, criam novos tipos de textos com um toque de humor.


HAI-KAI

Acabou a farra 
formigas mascam 
restos de cigarra. 

Paulo Leminski 

HAI-KAI é um gênero tradicional da poesia japonesa.
O poema é composto de apenas três versos. 



CONTRAFÁBULA DA CIGARRA E DA FORMIGA
Adaptação feita por Pedro Bandeira do texto do escritor português Antônio A. Batista

A formiga passava a vida naquela formigação, aumentando o rendimento da sua capita e dizendo que estava contribuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto. Na trabalheira do investimento, sempre consultando as cotações da Bolsa, vendendo na alta e comprando na baixa, sempre atenta aos rateios e às subscrições. Fechava contrato em Londres já com um pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra, para verificar os dividendos de suas contas numeradas.
Mas vivia roendo-se também por dentro ao ver a cigarra, com quem estudara no ginásio, metida em shows e boates, sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum.
E vivia a formiga a dizer por dentro:
─ Ah, ah! No inverno, você há de aparecer por aqui a mendigar o que não poupou no verão! E vai cair dura com a resposta que tenho preparada para você!
Ruminando sua terrível vingança, voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos  lucros, incutindo nos filhos hábitos de poupança, consultando advogados e tomando vasodilatadores.
Um dia, quando voltava de um almoço no La Tambouille com os japoneses da informação, encontrou a cigarra no shopping Iguatemi, cantarolando como de costume.
Lá vêm ela dar a sua facada, pensou a formiga. “Ah, ah, chegou a minha vez!”
Mas a cigarra aproximou-se só querendo saber como estava ela e como estavam todos no formigueiro.
A formiga, remordida, preparando o terreno para sua vingança, comentou:
─ A senhora andou cantando na tevê todo este verão, não foi, dona Cigarra?
─ É claro! – disse a cigarra. – Tenho um programa semanal.
─ Agora no inverno é que vai ser mau – continuou a formiga com toda maldade na voz. – A senhora não depositou nada no banco, não é?
─ Não faz mal. Os meus discos não saem das paradas. E acabei de fechar um contrato com o Olympia de Paris por duzentos mil dólares...
─ O quê?! – exclamou a formiga. – A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno?
─ Não. Isso é só em Paris. Depois tem a excursão a Nova York, depois Londres, depois Amsterdam...
Aí a formiga pensou no seu trabalho, nas suas azias, na sua vida terrivelmente cansativa e nas suas ameaças de enfarte, enquanto aquela inútil da cigarra ganhava cantando e se divertindo! E perguntou:
─ Quando a senhora embarca para Paris?
─ Na semana que vem...
E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris, procure lá um tal La Fontaine. E diga-lhe que eu quero que ele vá para o raio que o parta! 








Nenhum comentário:

Postar um comentário